30 de dezembro de 2009

O CLAMOR DO PRIMEIRO ANJO III

E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” Apoc. 14:6,7.

DO Deus Juiz que provoca temor, o primeiro anjo passa para o Deus Criador que deve ser adorado. Da obediência da lei em que o adorador reconhece a justiça e a bondade de Deus, passa-se à adoração motivada exclusivamente pelo amor que se extasia diante da grandeza da obra.

Impressionado pela infinita bondade manifestada no Universo, a criatura humana é impelida adorar o seu Criador. É muito interessante notar que os Salmos e as orações que estão no centro do culto de Israel, associam directamente a criação à adoração (Salmo 95:6; 102:19; Neemias 9:6). Porque em criando, Deus demonstrou ao mesmo tempo poder e graça. A Sua grandeza infinita constrange à adoração e fundamentalmente à reverência, e Deus torna-se tão próximo pelas Suas obras que esta proximidade permite o encontro e o amor. Deus é antes de tudo e sobretudo e de tudo, absolutamente independente e único, mas Ele está também na origem de tudo e de todos. Nós só temos existência na dependência d´Ele. Esta é a principal lição que se deve retirar da criação e o que justifica a adoração. Porque a adoração é feita desta tensão entre o sentido da distância de Deus e a experiencia íntima da Sua presença.

Logo nas primeiras páginas da Bíblia, as duas apresentações da criação testemunham desta exigência. Na primeira temos o texto (Génesis 1-2:4), Deus, Elohim, é Um presente transcendente, Deus poderoso e Mestre do Universo. Na segunda parte do texto (Génesis 2:4-24), Deus, YHWH, é presente na imanência, pessoal, Deus da existência e da história, Deus da relação.

A Bíblia abre-se sobre a Criação, não somente pelas razoes históricas e cronológicas evidentes, porque tudo começa aqui, mas para que desde o começo o ser humano que recebe esta palavra de Deus possa situar-se em relação a Deus.

Começando pela Criação, a Bíblia coloca as bases da adoração. Mas o texto do Apocalipse visa mais que uma simples evocação do evento da Criação. A menção inesperada das “fontes das águas” (Ap. 14:7), centrada no contexto de mais três elementos relacionados, o céu, a terra e o mar, traduz uma intenção especial. No contexto do Antigo Israel, rodeado por desertos onde a vida depende da água, as fontes das águas contrastam com o deserto, lugar de morte e do mal (Ap. 12:6,14; 17:3).

Este versículo das fontes das águas ao qual o Cordeiro conduz o Seu povo (Ap. 7:17; 12:6; 22:17). Da mesma maneira no livro de Ezequiel, a Jerusalém da esperança é imaginada fluindo fonte de água (Ezeq. 47:1-12); e nisto, encontramos uma ligação na forma como é apresentado o Jardim do Éden (Gén. 2:10-14; cf. Joel 3:18; Zac. 13:1; Salmo 46:4; Ap. 22:1,2).

Evocando as fontes de água, o nosso teto sugere, portanto, uma visão de futuro onde a Jerusalém ideal é descrita sob os traços do Jardim do Éden. Não pode ser por acaso que o apelo à adoração do Criador seja dada na perspectiva do julgamento: “porque é chegada a hora do seu juízo;” (Ap. 14:7). Esta associação traz uma carga de esperança. O julgamento que marca o fim da história humana traz o anúncio da recriação. É o anúncio: “Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Ap. 21:4). Deseja que os seus olhos sejam limpos das lágrimas, está cansado de ver o cortejo da morte? Deixe que esta promessa do Autor da nossa vida encha o seu coração da esperança. Ámen!

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