27 de janeiro de 2010

A RELAÇÃO ENTRE O APOCALIPSE E DANIEL

Olá companheiros, tudo bem? Vou com a graça de Deus iniciar mais um tema sobre o Apocalipse. Certamente notaram que comecei pelos últimos capítulos do nosso livro e estou agora a fazer uma viragem, ou seja, a fazer o percurso contrário.
Espírito do Senhor guia-nos a encontrar a palavra e o pensamento certo, seja a Tua sabedoria a conduzir-nos neste estudo por Jesus. Amem!
Ao entrar neste livro temos a sensação de entrar por uma porta numa casa que nos suscita a curiosidade e desafia a nossa inteligência. A primeira palavra, “apocalipse”, soa como uma advertência “o que parece estar no escuro, na verdade está na luz”. E este é o sentido da palavra “apocalipse” que vem de uma palavra grega apocalupto (revelar os segredos). Este verbo é uma das palavras chave do livro de Daniel, onde aparece com um sentido de revelação profética. Este eco do livro de Daniel ressoa no livro de Apocalipse com tanta força que para se entrar na “casa” do Apocalipse precisamos da chave fornecida por Daniel.
Se estivermos atentos verificamos que o Apocalipse começa com uma bem-aventurança que parece transportada da conclusão do livro de Daniel: “Bem-aventurado (feliz) aquele que lê e bem-aventurados (felizes) os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Ap. 1:3).
Tal como no livro de Daniel o “feliz aquele que” é o que está identificado com o evento da esperança: “Bem-aventurado é o que espera e chega aos mil trezentos e trinta e cinco dias. Tu, porém, vai-te, até que chegue o fim; pois descansarás, e estarás no teu quinhão ao fim dos dias.” (Dan. 12:12,13).
Se tivermos em atenção o texto do Apocalipse 1:3, situa-se claramente na linha e no prolongamento directo da profecia de Daniel e esta bem-aventurança é a primeira prova evidente. O livro de Daniel é de facto o livro do Antigo Testamento mais citado no Apocalipse. Ele ressoa as mesmas palavras. Aí encontramos as mesmas visões, os mesmos temas e as mesmas lições tipológicas caminham no mesmo itinerário, os dados cronológicos são expressos frequentemente na mesma linguagem, a mesma perspectiva profética que cobre o período dos tempos, as mesmas lições éticas, e enfim a mesma estrutura em quiasmo.
É fundamental ter em mente estas relações entre os dois livros sagrados para conduzidos pelo Espírito Santo poder ler e compreender estes preciosos livros por Deus inspirados. Tanto mais que o “bem-aventurado” é aquele que “lê”, “ouve” e “guarda”. Isso é significativo na bem-aventurança que introduz o Apocalipse, tal como a bem-aventurança a concluir o livro de Daniel. Um e outro inspiram a ter esperança enquanto se espera a vinda de Jesus.
A descoberta da bem-aventurança “felicidade” implica uma revelação, “um segredo revelado”, um Apocalipse. É nesta descoberta que é necessário começar. Sem esta fé, não é possível continuar e o livro será reduzido a uma amálgama de sons inúteis. A natureza da leitura do Apocalipse tem um carácter essencialmente religioso. Repare estimado leitor, que só o “ler” se conjuga no singular (no original) “aquele que lê”; enquanto que o dois verbos seguintes estão no plural: “aqueles que ouvem”, “aqueles que guardam”. A leitura não é exclusivamente privada; ela deve ser fundamentalmente lida por um e ouvida por vários (não têm razão aqueles que defendem não ter necessidade de pertencer a uma comunidade cristã), Jesus seguia a pratica litúrgica da sinagoga (Lucas 4:16-28).
O Apocalipse não fala unicamente aos místicos e aos sentimentais da religião. Aliás, o seu propósito é “derrubar” os muros mentais e do preconceito, tornar-se em palavra profética, de estudo e interrogação da parte daquele que a recebe. Por detrás da palavra “ouvir” há o conceito hebraico de esforço e responsabilidade da inteligência. Ao mesmo tempo, o dever de passar à acção e viver o que foi compreendido. O Shema Israel (Ouve, ó Israel), não se compreende como sendo uma doce melodia que embala e desperta emoções agradáveis:
“4 Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
5 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.
6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
7 e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.
8 Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos;
9 e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.” (Deut. 6:4-9).
Em hebraico, a palavra “ouvir” (escutar, compreender) significa também “guardar” e “obedecer”.
É precisamente o que diz o verso (Ap. 1:3) “e guardam as coisas que nela estão escritas”. No horizonte da escuta e da leitura que ressoa aos ouvidos, e da exigência à inteligência, o que se espera é uma vida sob o controle de Deus. Porque o que determina a escolha e a orientação, não é a opinião ou a verdade subjectiva, mas são “as coisas que nela estão escritas” (Ap. 1:3).
O Apocalipse define-se deste modo como portador de uma verdade absoluta, uma verdade que existe e chama a nossa atenção (avisa) contra as interpretações pessoais ou fantasiosas.
Este foi o nosso estudo para hoje, rogamos que o Senhor tenha estado ao leme desta apresentação e continue a inspirar e a mover os nossos corações para uma escuta séria e consequente. Deus nos abençoe em Cristo. Amem!

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