23 de setembro de 2010

DANIEL 4: A QUEDA DA ÁRVORE


Construção de Inscrição II Nebuchadnezar King na Porta de Ishtar .
Um trecho abreviado diz: "Eu (Nabucodonosor), a fundação
dos portões até o nível do lençol freático e eles tinham
construído com pedra azul puro. Nas paredes do quarto
 da porta interior, são touros e dragões e, portanto,
eu magnificamente adornado com eles esplendor
luxuoso para toda a humanidade a contemplar com admiração. "

“És, tu, ó rei, que cresceste, e te fizeste forte; pois a tua grandeza cresceu, e chegou até o céu, e o teu domínio até a extremidade da terra.
E quanto ao que viu o rei, um vigia, um santo, que descia do céu, e que dizia: Cortai a árvore, e destruí-a; contudo deixai na terra o tronco com as suas raízes, numa cinta de ferro e de bronze, no meio da tenra relva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e seja a sua porção com os animais do campo, até que passem sobre ele sete tempos.” Daniel 4:22,23.

Ironicamente, como no relato da antiga Torre de Babel (Gén. 11:4,5), a árvore, eleva-se “até ao céu” (Dan. 4:22), isto supõe uma queda (descida) do alto (v. 23). A primeira cena não passava de qualquer coisa de carácter visual, estático: uma arvore magnifica. A segunda cena é ao mesmo tempo audível e dinâmica: o rei vê os movimentos de seres celestes e ouve as suas vozes de comando. Assim a primeira cena estava impregnada de paz e de majestade, enquanto a segunda é tumultuosa e inquietante. Da calma da descrição passa a agressão violenta e nervosa.
Nisto se percebe que os actores desta segunda visão são mais expressivos e há uma mudança de ritmo: “um vigia” (ver v. 13,23). É o único texto na Bíblia a referir este personagem. Aqui o sonho toma uma linguagem que fala ao rei, e o coloca nas suas tradições ancestrais. Segunda uma antiga crença confirmada nos comentários zoastros da Zend-Avesa, o grande deus tinha colocado quatro vigias nos quatro cantos do céu para manter uma constante vigia sobre os astros (Notes on de Book of Daniel, New York, 1881, p. 213, A. Barnes).
Para Nabucodonosor a presença destes seres celestes significava que o seu destino era determinado pelo Deus do alto. Mas no sonho e na sua explicação, estes vigias são claramente identificados segundo a tradição bíblica. O texto emprega o termo “santos”, um termo que caracteriza os anjos em muitas passagens bíblicas (Job 5:1; 15:15; Salmo 89:6,8; Zacarias 14:5). A Bíblia dos Setenta situa-se no contexto desta interpretação, ela traduz a palavra “vigia” por “anjo”.
O “vigia”, anjo do céu, anuncia o destino da árvore em duas passagens.
A primeira fase contém várias ordens que indicam a queda da árvore (Dan. 4:14,23). Caída por terra, a árvore desaparece à vista dos homens; despojada dos seus ramos, das suas folhas e dos seus frutos, ela perde a sua função de protectora e de fonte de nutrição universal (vv. 14,21). O oráculo significa que Nabucodonosor será expulso “de entre os homens” (v. 25).
A segunda fase não contém mais que uma única ordem que se relaciona com o estado da árvore depois da sua queda (v. 14). A árvore cai e estéril fica com as raízes fixas à terra, mas impedida de crescer e desenvolver-se. O emprego das cadeias de ferro e de bronze, metais reputados pela sua solidez (2ª Crónicas 24:12), garantem que se mantenha nesse estado. O que permanece da árvore é a condenação de ficar presa ao solo, ou como sublinha o verbo aqui utilizado, “presa” (asar) num estado “vegetativo” ou como dá a entender o texto; animal. De facto, tudo é animal nela. Ela reside “entre os animais do campo” (4:25), dorme com os animais, o seu corpo age como animal. Vejamos todo o texto: “serás expulso do meio dos homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu, e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.” Daniel 4:25, salientamos a seguinte sentença: “e ter farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu”, e pensa mesmo como os animais: “Seja mudada a sua mente, para que não seja mais a de homem, e lhe seja dada mente de animal; e passem sobre ele sete tempos.” (Daniel 4:16). Na antropologia bíblica, o coração é a sede do pensamento e da razão. Dizer que o coração do homem é substituído por um coração de animal, quer fazer compreender que este homem não poderá mais pensar nem raciocinar.
Este “transplante” de coração de homem por um coração de animal é para Daniel a explicação desta estranha metamorfose. Se Nabucodonosor, é representado pela linhagem animal, comporta-se como animal, é tão simplesmente por ele recebeu um coração de animal. Esta espécie de transplante cardíaco foi interpretada por Daniel sob o plano religioso. Nabucodonosor deixará de ter comportamento animal desde que reconheça que o “Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens” (Daniel 4:25). Por outras palavras, o estado animalesco do rei corresponde à sua inconsciência religiosa. Durante um certo tempo Nabucodonosor não terá o sentido de Deus.
Do ponto de vista bíblico, o rei não pode descer mais baixo: ele ficará limitado a um estado animal e disso nada o poderá livrar. A sentença de Deus soa como um “decreto” do Alto (v. 24) com tudo o que a palavra implica de definitivo e absoluto. Até o tempo desta doença foi fixado por Deus: “sete tempos” (v. 25). O número sagrado sublinha de forma clara o carácter determinante do decreto divino.
Apesar deste fim trágico e desesperado, o decreto de Deus deixa perceber uma nota de esperança. Em primeiro lugar a queda da árvore não é vista no sonho. Nabucodonosor ouve a ordem, mas não se encontra ainda no estado da execução da mesma. A árvore que representa Nabucodonosor ainda está de pé e em floração. Ainda é tempo para Nabucodonosor de parar o que está anunciado. Daniel aproveita esta ocasião para fazer apelar ao rei a humilhar-se e arrepender-se do seu orgulho: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniquidades, usando de misericórdia com os pobres, se, porventura, se prolongar a tua tranquilidade.” Daniel 4:27. Por duas vezes Daniel sublinha que assim que Nabucodonosor reconheça Deus como o Senhor sobre todas as coisas e como tendo domínio sobre o próprio rei, ele será salvo (v. 26): a via a seguir é deste modo claramente de carácter religioso e de relacionamento com o próprio Deus. Mas a intervenção de Daniel situa-se também sobre o plano ético e relaciona-se com a atitude com o próximo. Nabucodonosor é pois, exortado a praticar a justiça e a compaixão (v. 27). O arrependimento implica uma relação de dimensão vertical e horizontal. Nabucodonosor só poderá respeitar o infeliz e praticar a justiça (tsedaqa) na medida em que ele reconheça o Senhor como Deus acima de tudo e de todos. Porque a consciência que existe Alguém sobre si-próprio é a base do respeito do próximo. Amar Deus, é amar o próximo. Eis porque matar o próximo é matar a imagem de Deus (Génesis 9:6), ignorar Deus leva ao desprezo dos homens. A religião prepara para uma ética ou seja, ética autêntica da religião. Parece que Daniel ainda acredita que Nabucodonosor possa compreender este dois níveis e arrepender-se, ele deixa perceber nestas palavras: “usando de misericórdia... e se prolongará a tua tranquilidade” ou “felicidade”.
Desta forma, o determinismo do decreto parece estar nas mãos e à responsabilidade do rei. O seu destino está na sua decisão. Nabucodonosor ainda é livre. Por outro lado, o profeta deixa entender que a felicidade que segue ao arrependimento não é automática. A última frase introduz a conjunção hen que contém a ideia de um “talvez”. Mesmo se o rei se arrepende, a bênção de Deus não é segura. Deus também é livre. Não se deve crer que necessariamente o arrependimento traz incondicionalmente a felicidade, antes e especialmente o importante é compreender a gravidade do pecado. Ou seja, o arrependimento não seria sincero e não seria um acto livre se fosse só pela felicidade, ou em função desta. Nestas condições o arrependimento seria um acto interesseiro, determinado pela recompensa. Para ser livre e consequentemente autentico, o arrependimento deve ser gratuito.
Também não se pode obrigar Deus a ser obrigado de abençoar e recompensar o justo. De outro modo, Deus seria reduzido a uma máquina que distribui bênçãos bastando que se apoie sobre um botão. Deus é livre, e as Suas bênçãos devem ser recebidas como uma graça que resultam independentemente das nossas acções.
Esta dimensão lança neste contexto pesado de determinismo um raio de esperança: tudo é possível.
Mais ainda se o arrependimento não se produzir o efeito redutor, mesmo se o decreto se cumpre e que a árvore é abatida, ainda há uma saída. A segunda fase do oráculo sugere que a vida da árvore será poupada. A árvore não será arrancada. O tronco, o principio (îqar) das raízes é conservado. A vida da árvore retomará. Este facto do tempo de prova estar fixado (sete tempos) é portador de esperança. A prova tem um fim. Se a predição do sofrimento se cumpre, o seu fim também está assegurado. Paradoxalmente, no coração das trevas inscreve-se um sinal de esperança.

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