11 de dezembro de 2010

ESTUDO SOBRE DANIEL 8

INTRODUÇÃO
“Satanás odeia a verdade do Santuário, pois sabe que ela é a suprema verdade do Céu para hoje. Ela envolve diretamente a sua pessoa – seu destino e condenação, a sua futura e final extinção. Ele está procurando ganhar tempo. Deseja intensamente arrastar para a perdição o maior número de pessoas possível. Iniciará e estimulará, portanto, toda tentativa para modificar, reestruturar, deturpar ou alterar a ênfase e o conceito da verdade do Santuário, e invalidar o testemunho, reprimir seu ensino e corromper sua integridade.”

Daniel 8
Uma das passagens mais complexas do estudo sistemático das Escrituras é o capítulo 8 do livro de Daniel. Trata-se de um capítulo que só se torna coerente e válido se aplicarmos a interpretação histórica, isto pode ser comprovado ao vermos o cumprimento da visão que o profeta nos apresenta durante a história e não no futuro, como alguns grupos religiosos apresentam. Começando no terceiro ano do reinado do Rei Belsazar, ou seja, por volta de 551 a.C. Daniel estava com aproximadamente 72 anos de idade, nessa ocasião ele teve uma visão (a palavra hebraica neste caso é Hazon), “na cidade de Susã, que é província de Elão.” V.2. Susã estava situada no sudoeste da Pérsia e, “de acordo com o historiador grego Xenofonte, os reis persas posteriormente usavam a cidade como residência de inverno, e passavam o resto do ano em Babilônia ou em Ecbatana.” (SDABC, sobre Daniel 8:2).
E foi também "na cidade de Susã”, onde estava localizado o trono do Rei Assuero (Xerxes), que ocorreu a célebre história da rainha Éster. (Éster 1:2), ele estava “junto ao Rio Ulai”. O rio passava por Susã na direção sul e do sudeste, e desaguava no rio Karun.”(SDABC, sobre Daniel 8:2). Analisamos até aqui a geografia e a história que envolve os dois primeiros versículos”.

A visão apresenta alguns símbolos que merecem a nossa análise:

- Um Carneiro que tinha dois chifres ( v. 3): O anjo posteriormente identifica este símbolo como representando os reis da Média e da Pérsia (v. 20).
- Mais alto do que o outro (v. 3): Embora se tenha levantado posteriormente a Média, a Pérsia tornou-se o poder dominante quando Ciro derrotou Astíages de Média em 553 a.C ou 550 a.C. Os medos, contudo, não foram tratados como povo inferior ou subjugados, mais sim como confederados.
- Dava marradas para o ocidente (v. 4): Ciro conquistou a Lídia em 547 a.C, e Babilónia em 539 a.C. Cambises estendeu as conquistas na direção do sul até o Egito e Etiópia em 525 a.C. Dario Histaspes dirigiu para o norte para o norte contra os Cytas em 513 a.C. Império Medo-Persa cobriu muito mais território que o seu predecessor, Babilónia. Tão bem sucedidas foram as armas persas que nos dias de Assuero (Éster 1:1) o império se estendia da Índia à Etiópia. As extremidades meridionais e orientais do mundo então conhecido. Um título frequente dos monarcas era “rei dos reis” ou “rei das nações”.
- Se engrandecia ( v. 4): Literalmente, “fazia grandes coisas”, “fez-se grande” ou “magnificou-se” (RSV).
- Bode (v.5): Identificado como representando a Grécia (v. 21) isso é, o império Macedônio de Alexandre.
- Do Ocidente (v. 5): A Grécia situava-se a ocidente do Império Persa.
- Sem tocar no chão (v. 5): Esta descrição de grande velocidade retrata apropriadamente a rapidez e perfeição espantosa das conquistas de Alexandre.
- Chifre Notável (v. 5): De acordo com o verso 21, este chifre notável representa o primeiro grande rei da Grécia, isto é, Alexandre o Grande.
- Enfurecido (v.7): Heb. Marar, na forma aqui encontrada, “estar enfurecido”. A linguagem deste verso retrata a inteira sujeição da Pérsia a Alexandre. O poderio do império foi completamente despedaçado. Os países foram arrebatados, os seus exércitos desbaratados e dispersos, as suas cidades saqueadas. A cidade real de Persépolis, cujas ruínas ainda existem como um monumento do seu antigo esplendor, foi destruída pelo fogo.
- Se engrandeceu sobremaneira (v. 8): Ou, “magnificou-se extremamente.”
- Na sua força (v. 8): A profecia prediz que Alexandre cairia enquanto o seu império estivesse no auge do seu poderio. Com a idade de 32 anos, ainda na primavera da vida, o grande líder morreu duma febre, agravada, sem dúvida, pela sua intemperança.
- Quatro Chifres notáveis (v. 8): Sobre os quatro reinos macedónicos (ou helenísticos) em que o império de Alexandre foi dividido.
- De um deles (v. 9): ( VARA – De um dos chifres saiu). Esta frase apresenta confusão de género no Hebraico. A palavra “deles” Hem, é masculina. Isto indica que gramaticalmente, o antecedente é “ventos” (v.8), e não “chifres”, visto que “ventos” pode ser masculino ou feminino, mas “chifres” só pode ser feminino. Por outro lado a palavra para “um”, Achath, é feminina, sugerindo “chifres” como antecedente. Achath poderia, evidentemente, referir-se à palavra anterior para “ventos”, que ocorre mais frequentemente no feminino. Porém é de se duvidar que o escritor tivesse determinado dois géneros para o mesmo substantivo numa tão estreita relação contextual. Para se obter concordância gramatical, Achath seria mudada para masculino, fazendo assim a frase inteira referir-se claramente a “ventos”, ou a palavra “deles” (de um dos) seria mudada para feminino, em cujo caso a referência seria ambígua, visto que tanto “ventos”, como chifres “poderiam ser antecedentes. Um certo número de manuscritos reflete a escrita correcta, a passagem ainda ambígua”.
Os comentadores que interpretam o “chifre pequeno” do v. 9 como se referindo a Roma, tem-se embaraçado ao tentarem explicar satisfatoriamente como Roma poderia ser dito levantar-se duma das divisões do império de Alexandre. Se “deles” se refere a “ventos”, toda dificuldade desaparece. A passagem então simplesmente expõe que de um dos quatro pontos cardeais viria um outro poder. Roma veio do ocidente. Na explicação literal dos símbolos da visão Roma é dito levantar-se “no fim do seu reinado” (v. 23), isto é, o “reinado” dos quatro chifres. Contudo, o v. 23 refere-se somente ao tempo em que o chifre pequeno levantar-se-ia, e não diz nada àcerca do local do seu levantamento, enquanto que o v. 9 diz respeito exclusivamente à sua situação.
Dever-se-ia lembrar que o profeta está a dar aqui um relatório vivo da simbolização profética, como as cenas lhe foram apresentadas. Ele ainda não está a interpretar a visão. A interpretação desta feição da visão ocorre no v. 23. Uma regra importante a seguir-se quando se interpreta os símbolos das visões, é determinar-se uma interpretação somente as feições das representações pictóricas que forem destinadas a ter valor interpretativo. Como com parábolas, certas feições são necessárias para completar a apresentação dramática, porém não são, em si, necessariamente significativas. Quais destas tem valor interpretativo, somente a inspiração pode determinar. Vendo-se que neste exemplo a inspiração (v.23) fala somente do “tempo” em que o poder representado por este chifre emergiria, e não diz a respeito do ponto geográfico da sua origem, não existe razão alguma para pormos ênfase na frase “de um deles” (VARA - de um dos chifres).
Visto que a visão do cap. 8 é estreitamente paralela aos esboços proféticos dos capítulos 2 e 7, e visto que em ambos aqueles esboços o poder que sucede à Grécia é Roma, a adaptação razoável aqui é que o “poder” chifre do v. 9 também se aplica a Roma. Esta interpretação é confirmada pelo facto de Roma preencher precisamente as várias especificações da visão.
- Um Chifre Pequeno (v. 9): Este chifre pequeno representa Roma em ambas as suas fases, pagã e papal. Daniel viu Roma primeiramente na sua fase pagã, imperial, guerreando contra o povo judeu e os primeiros cristãos, e depois na sua fase papal, continuando a luta contra a verdadeira igreja até os nossos dias e até ao futuro.
- Excessivo (v.9): (VARA-muito). Hebraico Yether, basicamente significando “resto”. Alguns exemplos descreve, como aqui, o que está acima da medida, no sentido de deixar um resto. É traduzida “excelência” (Gén.49:3), “largura” (Sal.31:23), “mais famoso” (Isa.56:12). A palavra traduzida “muito” em Dan. 8:8 é Me’od, a palavra mais comum para “excessivamente”. No Velho Testamento Me’od é traduzido “excessivo” ou “excessivamente” (VARA- Grande) 22 vezes ( Gen. 13:13 ; 15:1 ; etc.) na sua forma simples e 9 vezes na sua forma repetida. Não se pode argumentar que Yether (Daniel 8:9) represente um grau maior que Me’od. Qualquer grandeza excedente de Roma sobre a da Grécia deve ser provada historicamente, e não sobre a base destas palavras.
- Para o Sul (v.9): O Egipto fora por muito tempo um protectorado não oficial de Roma. O seu destino já estava nas mãos de Roma em 168 a.C. quando Antíoco Epifânio, que estava querendo fazer guerra aos Ptolomeus foi expulso do país. O Egito, ainda sob a administração dos seus governantes ptolomaidas fora um penhor da política de Roma Oriental por muitos anos antes que se tornasse, em 30 a.C., uma província romana.
- Para o oriente (v. 9): O Império Selêucida perdeu as suas terras mais ocidentais para Roma ainda em 190 a.C., e finalmente se tornou à província romana da Síria em 65 a.C. ou pouco depois.
- Terra Deleitável (v.9): (VARA- Terra Gloriosa). Hebraico Sebi, “ornamento”, “decoração”, “glória”. Ou Jerusalém ou a terra da Palestina é aqui mencionada. Sebi é traduzido “glorioso” no cap. 11:16,41. Contudo, ali o hebraico tem a palavra para “terra”, enquanto que aqui terra “está subentendida. A Palestina foi incorporada no império Romano em 63 a.C.
- Exército dos Céus (v. 10): Daniel está ainda descrevendo o que viu em visão. Visto que o anjo prove posteriormente a interpretação (v. 24), não fomos deixados às escuras quanto ao significado do que aqui esta descrita. O “exército” e as “estrelas” obviamente representam “o poderoso (VARA- poderosos) e o povo santo” (v. 24).
- Os Pisou (v. 10): Isto se refere à fúria com que Roma tem freqüentemente perseguido o povo de Deus através dos séculos. Nos dias dos tiranos Nero, Décio e Diocleciano nos tempos pagãos, e de novo nos tempos papais, Roma nunca hesitou proceder duramente com aqueles que quer condenar.
- Príncipe do Exército (v. 11): o verso 25 fala deste mesmo poder que se levanta contra o Príncipe dos Príncipes. A referência é a Cristo, que foi crucificado sob a autoridade de Roma.
- Por Ele (v. 11): (VARA- dele). Hebraico Mimmennu, que também se pode traduzir “dele”, isto é, do “príncipe do exército”. O hebreu desta passagem apresenta certos problemas difíceis de traduzir. Uma escrita bem diferente é achada na versão grega de Teodócio. Ela insere o seguinte o seguinte: “E (este será) até que o capitão principal tenha libertado o cativeiro: e por causa dele o sacrifício foi perturbado e ele prosperou; e o lugar santo será feito desolado”. Não existe meio de se determinar até que o ponto, se a algum, esta versão reflete mais perfeitamente o texto original de Daniel. O texto massorético, como refletido pela KJV e RSV parece ser, em geral, a escrita mais natural.
- Sacrifício Diário (v. 11): (VARA - habitual). Hebraico TAMID, uma palavra que ocorre 103 vezes no Velho Testamento, usada tanto adverbial como adjetivamente. Significa “continuadamente” ou “contínuo”, e é aplicado a vários conceitos, tais como atividade contínua (Ezequiel 39:14), sustentação permanente (II Sam. 9:7,13), dor contínua (Sal. 38:17), esperança contínua (Sal. 71:14), provação contínua (Isa. 65:3) etc. É usado freqüentemente em conexão com o Ritual do Santuário para descrever várias figuras dos seus serviços regulares tais como o “pão contínuo” que era para ser conservado na mesa da proposição (Num. 4:7), a lâmpada que era para estar acesa continuamente sobre o altar (Lev. 6:13), as ofertas queimadas que eram para ser oferecidas diariamente (Num. 28:3,6), o incenso que era para ser oferecido cada manhã e cada crepúsculo da tarde (Ex. 30:7,8). A palavra em si não significa “diariamente”, mas simplesmente “contínuo” ou “regular”. Das 103 ocorrências é traduzida “diariamente” somente Num. 4:16 e nas suas cinco ocorrências em Daniel (8:11,12,13; 11:31; 12:11). A idéia de “diário” foi evidentemente derivada, não da palavra em si, mas daquela com que foi associada.
No capítulo 8:11 TAMID, tem o artigo definido e é portanto usado adjetivalmente. Além disso, acha-se, sem um substantivo, e deve, ou, ser entendido subjetivamente com significado “continuidade”, ou ser suprido de um substantivo. No Talmude, quando TAMID é usado independentemente como aqui, a palavra consistentemente denota o sacrifício diário. Os tradutores da KJV, que supriram a palavra “sacrifício”, obviamente acreditaram que a oferta queimada diária fosse o assunto da profecia. Com respeito à significação de TAMID nesta passagem, três principais pontos de vista tem sido mantidos:
1. Que o “diário” se refere exclusivamente aos sacrifícios oferecidos no templo em Jerusalém. Alguns expositores que mantém este ponto de vista, aplicam o tirar do “diário” à interpretação do serviço do Templo por Antíoco Epifânio, por um período de cerca de três anos, de 167 a 164 a.C. Outros aplicam-no à desolação do Templo pelos Romanos em 70 a.D.
2. Que o “diário” se refere ao “paganismo”, em contraste com a “abominação desoladora” (Cap. 11:31), ou o papado que ambos os termos identificam poderes perseguidores; que a palavra “diário”, corretamente significando “Contínuo”, refere-se à longa continuidade da oposição de Satanás à obra de Cristo pelo intermédio do paganismo; que o tirar do “diário” e o estabelecimento da “abominação desoladora” representa Roma Papal substituindo Roma pagã, e que este evento é o mesmo que o descrito em II Tess. 2:7 e Apoc. 13:2.
3. Que o termo “diário” - “contínuo” - se refere ao ministério sacerdotal de Cristo no Santuário Celestial ( Heb. 7:25 e Jo. 2:10) e ao verdadeiro culto de Cristo na era do evangelho; que o tirar do “diário” representa a substituição pelo papado de unidade compulsória numa igreja visível em lugar da unidade voluntária de todos os crentes em Cristo, da autoridade duma cabeça visível – o papa – em lugar de Cristo, a cabeça invisível da igreja, duma hierarquia sacerdotal, em lugar do acesso direto a Cristo por todos os crentes, dum sistema de salvação por meio de obras ordenadas pela igreja em lugar da salvação pela fé em Cristo, e, mais particularmente, do confessionário e do sacrifício da missa em lugar da obra mediadora de Cristo como nosso grande sumo sacerdote nas cortes celestiais; e que este sistema desvia completamente a atenção dos homens de Cristo, privando-lhes assim dos benefícios do seu ministério.
Além disso, visto que este terceiro ponto de vista defende o chifre pequeno com Roma imperial e Roma papal (veja-se comentários sobre 9,13), as predições concernentes as suas atividades devem também ser entendidas como se aplicando a Roma pagã, bem como a Roma Papal. Assim o “diário” deve também se se referir ao Templo Terrestre e seus serviços, e o tirar do “diário” aplica-se à desolação do Templo pelas legiões Romanas em 70 A.D e a conseqüente cessação dos serviços sacrificais. Foi este aspecto da atividade de “abominação da desolação” que Cristo se referiu na sua delineação de eventos futuros.
Em comentário a estes três pontos de vista, pode-se dizer que o de Antíoco deve ser riscado pela razão que este não se encaixa nos períodos de tempo, ou noutras especificações da profecia.
Tanto a segunda como a terceira interpretação tem sido mantida por vários expositores capazes dentro do Movimento Adventista. Algum devoto estudante da Bíblia tem considerado que o “diário” se ao paganismo, e outros, igualmente devotos estudantes das Escrituras, dizem que o “diário” se refere ao Ministério Sacerdotal de Nosso Senhor. Talvez esta seja uma das passagens da Escritura acerca de cujas devamos esperar até um dia melhor para uma resposta final. Como com outras passagens difíceis das Escrituras , a nossa salvação não depende da compreensão plena do significado de Daniel 8:11.
Sobre o desenvolvimento histórico do segundo e terceiro ponto de vista, vejam-se págs. 60-64 do SDABC, vol. 4.
- Lugar (v. 11): Hebraico MAKON, “sítio”. MAKON é usado na frase “para a casa de Deus, para a restaurarem no seu lugar (Esd. 2:68). A referência primária aqui deve ser a destruição de Jerusalém”.
- Hoste (v.12): (VARA – Exército). Hebraico SABA’, geralmente significando “hoste” ou “exército” e poucas vezes significando “serviço”, tais como militar ou trabalho forçado (Jô 7:1 ; 10:17 ; 14:14 ; Isa. 40:2). Interpretando como “hoste”, ou “exército”, a predição deve referir-se às multidões que caíram sob a influência deste poder. O poder tornar-se-ia “grande” mas não por sua própria força (Dan.8:24).
- Deitou Por Terra a Verdade (v. 12): O papado acumulou a verdade de tradições e ofuscou-a por meio de superstições.
- Até Quando (v. 13): A questão é claramente exposta no hebraico, que insere literalmente “Até quando a visão, o contínuo, a transgressão desoladora para dar ambos santuário e hoste para serem pisados”.
- A transgressão da Desolação (v. 13): (VARA – transgressão assoladora). Este termo abarca AMBOS os sistemas – pagão e papal de religião falsa em conflito com a religião de Deus. (veja os comentários dos versos 9 e 11).
- Santuário (v. 13): Veja os comentários sobre o verso 14.
- Exército (v.13): Veja os comentários sobre o verso 10.
- Me Disse (v. 14): A Septuaginta, Teodócio e a Siríaca inserem “a ele”.
- Dias (v. 14): Hebraico EREB BOQUER, literalmente, “tardes e manhãs”, uma expressão comparável com a descrição dos dias da criação, “tarde e manhã” “o primeiro dia” (Gen. 1:5) etc. Os LXX trazem a palavra “dias” seguindo a expressão “tarde e manhã”.
Num esforço para trazer este período grosseiramente semelhante aos três anos da devastação do Templo por Antíoco IV, alguns têm ingenuamente assinalado, para as expressões “duas mil e trezentas tardes e manhãs” somente 1150 dias literais. Concernente a isto, Keil adequadamente observou: “um leitor hebreu não poderia possivelmente entender o período de tempo de 2300 tardes e manhãs de 2300 meios dias ou 1150 dias inteiros, porque tarde e manhã na criação na criação constituíram não meio dia, mas sim o dia inteiro”. Após citar a precedente afirmação Edward Young diz: “Por isso precisamos entender a frase como significando 2300 dias (The Prophecy Of Daniel, pág. 174)”.
Os comentaristas têm-se esforçado, porém sem serem bem sucedidos, por encontrar algum evento histórico que se adaptasse ao período de 2300 dias literais. Segundo Wright observa: “Todos os esforços, contudo, para harmonizar o período, quer seja considerado por 2300 dias, ou como 1150 dias, com qualquer época histórica precisa mencionada nos livros dos Macabeus, ou em Josefo, tem-se mostrado baldados... O professor Driver é justificado ao afirmar: Parece impossível encontrarem-se dois eventos separados por 2300 dias (= 6 anos e quatro meses) que correspondem à descrição”. (Charles H. H. Wrigth, Daniel and His Prophecies, 1906, págs. (186,187). O único caminho a seguir-se para que se possa dar consistência a esses “dias” é aplica-los num sentido profético pela aplicação do princípio dia-ano.
O tempo aqui envolvido é específico e definido, porém no cap. 8 nenhuma data é indicada para o seu inicio. Contudo no cap. 9 uma tal data é especificamente mencionada (Dan. 9:25). Esta será demonstrada ser 457 a.C. A partir desta data como inicio, os 2300 dias proféticos, designando tantos anos solares, atingem 1844 a.D. Para uma consideração de evidência contextual de que o cap. 9:24-27 prove uma explicação da visão do cap. 8:13-14, e assim localiza o ponto de partida dos 2300 dias ou ano, veja-se o comentário sobre o cap. 9:21. Para comentários sobre a validade da data de 457 a.C. veja-se o comentário sobre o cap. 9:25.
Para comentários sobre um erro numa edição posterior dos LXX, que apresentou “2400” em vez de 2300 veja-se pág. 58, SDABC, Vol. 4.
- Santuário (v. 14): Visto que os 2.300 projetam-se longe da Era Cristã, o Santuário não pode referir-se ao templo de Jerusalém, que foi destruído em 70 a.D. O Santuário do novo pacto é claramente o Santuário no Céu, “que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:2). Deste Santuário Cristo é o Sumo Sacerdote (Hebreus 8:1). João previu um tempo em que especial atenção seria dirigida para “o templo (VARA- Santuário) de Deus, e seu altar, e os que nele adoravam” (Aposse. 11:1). Os símbolos empregados pelo revelador são extraordinariamente semelhantes aos empregados em Daniel 8:11-13.
- Será Purificado (v. 14): Do hebraico SADAQ, “ser justo”, “ser reto”. O verbo ocorre na forma aqui encontrada (niphal) somente esta vez no Velho Testamento, cujo termo esta indicada. Lexicógrafos e tradutores sugerem várias significações, tais como “ser posto reto”, ou “ser posto numa condição legítima”, “ser vindicado”. A tradução “será purificado” é a que se lê nos LXX que aqui tem a forma verbal KATHARISTHESETAI. Não se sabe se os tradutores da Septuaginta deram uma significação adaptada ao Hebraico SADAQ ou se traduziram de manuscritos que empregassem uma palavra hebraica diferente, talvez TAHAR, a palavra comum para “ser puro”, “purificar”. A vulgata tem a forma MUDABITUR, que também significa “puruficado”.
Como uma ajuda para determinação de que evento em conexão com o Santuário Celeste é aqui mencionado, é útil examinarem-se os serviços do Santuário Terrestre, porque os sacerdotes no Santuário Terrestre serviam “em figura e sombra das cousas celestes.” (Heb. 8:5). Os serviços no Tabernáculo do deserto e no Templo consistiam de duas divisões principais, o diário e o anual. O Ministério diário de Cristo como nosso Sumo Sacerdote era tipificado nos serviços diários. O Dia da Expiação anual, tipificava uma obra que Cristo empreenderia no fim dos tempos. Para uma discussão mais detalhada destas duas fases do serviço, veja-se comentários sobre Lev. 16, SDABC. A profecia de Daniel 8:14 anuncia o tempo para o começo desta obra especial. A Purificação do Santuário Celestial compreende toda obra toda obra do juízo final, começando com a fase investigativa e terminando com a fase executiva, que resulta na erradicação permanente do pecado no universo.
Uma característica significante do juízo final é a reivindicação do caráter de Deus perante todas as inteligências do Universo.
As falsas acusações que Satanás tem apresentado contra o governo de Deus devem ser demonstradas como totalmente infundadas. Deus deve ser mostrado ter sido inteiramente reto na seleção de certos indivíduos para suprir o Seu Reino futuro, e no evitar a entrada de outros ali. Os atos finais de Deus evocarão dos homens as confissões: “ Justo e verdadeiros são os teus caminhos” (Apocalipse 15:3), “Tu és justo, ò Senhor” (Apoc. 16:5), e, “Verdadeiros e justos são os Teus juízos”.(Apoc. 16:7). A palavra traduzida para “justo” e “reto” é DIKAIO, equivalente ao Hebraico SADDIK, derivado de SADAQ, uma forma do que é traduzido “será purificado” em Daniel 8:14. Assim o Hebraico SADAQ pode exprimir o pensamento adicional de que o Caráter de Deus será plenamente reivindicado como o clímax para a “hora do seu juízo” (Apoc. 14:7). Que começou em 1844.
- Procurei Entende-la (v. 15): Daniel não compreendeu o significado do que vira. Muitas vezes os próprios portadores de uma mensagem profética precisam estuda-lá a fim de que descubram o seu significado (I Pe. 1:10-12). É dever do profeta relatar fielmente o que vira e ouvira (Apoc. 1:11)
- Gabriel (v. 16): No Velho Testamento o nome de Gabriel ocorre somente aqui e no verso 21 do capítulo 9. O Novo Testamento relata o aparecimento deste ser celeste para anunciar o nascimento de João Batista (Luc. 1:11-20), e de novo para anunciar a Maria o nascimento do Messias (Luc. 1:26-33). O visitante angélico declarou de si mesmo: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus”. (Luc. 1:19).
- Tempo do Fim (v. 17): A visão atingiu até um tempo em que o poder desolador seria destruído, um acontecimento associado com a Vinda de Jesus (II Tess. 2:8).
Os últimos acontecimentos representados na visão cumprir-se-ão no fim da história deste mundo, deve ser trazido em mente quando se busca uma interpretação dos símbolos da visão. Qualquer exposição que encontra um cumprimento completo da visão num período mais cedo, tal como no tempo dos Macabeus (veja o comentário sobre Dan. 8:25), fica incapacitada de encontrar cabalmente as especificações do anjo, e deve ser considerada errônea e desencaminhadora.
- Fim da Indignação (v. 19): Veja comentário sobre o verso 17.
- O Carneiro (v. 20): Veja comentários sobre os versos 3 e 4.
- Peludo (v. 21): “Cabeludo”, ou “peludo”. Essa palavra no original é também usada independentemente para descrever um bode. (Gén. 37:31; Lev. 4:23; etc.). Sobre a interpretação veja o comentário sobre Dan. 8:5.
- Chifre Grande (v. 21): Um símbolo de Alexandre o grande, o “primeiro rei” do império mundial Grego-Macedônio que foi destinado a substituir o Império Persa (vejam-se comentário sobre os versos 5-8).
- Quatro Reinos (v. 22): Compare-se com o verso 8; cap. 11:4. O cumprimento perfeito desta feição da visão assegura-nos, que o que se segue seguramente virá a acontecer como esta predito.
- Último Tempo (v. 23): (VARA - fim do seu reinado). Isto é depois que as divisões do Império de Alexandre tivessem existido por algum tempo. O império de Roma levantou-se gradualmente, e somente alcançou supremacia após as divisões do império Macedônio se terem enfraquecido. A profecia aplica-se a Roma em ambas as suas formas, pagã e papal. Parece haver uma confusão de aplicação; certas feições aplicam-se a ambas, outras, mais especificamente, a uma ou a outra. (veja o comentário sobre o verso 11). Que Roma papal foi para todos os propósitos práticos, a continuação do Império Romano é um fato da história bem estabelecido:
“ Quaisquer que foram os elementos romanos que os bárbaros e os Arianos deixaram... foram... postos sob a proteção do Bispo de Roma, que foi a pessoa principal depois do desaparecimento do Imperador... A IGREJA ROMANA DESTA MANEIRA SECRETAMENTE PRECIPITOU-SE NO LUGAR DO IMPÉRIO MUNDIAL ROMANO, DE CUJO ELA É A ATUAL CONTINUAÇÃO; o império não mas somente sofreu uma transformação... Essa não é uma sagas observação, mas o reconhecimento do verdadeiro estado do assunto historicamente, e a mais apropriada e frutífera maneira de descrever o caráter desta igreja. Ela ainda governa as nações... Ela é uma criação política, e como se impõe como um Império Mundial, por causa da continuação do Império Romano. O Papa, que se chama a si mesmo de “Rei” e “Pontífice Máximo”, é sucessor de César”.
Adolf Harnack, WHAT IS CHRISTIANITY? – Nova Yorq; G. P. Putnam’s Sons, 1903, ps. 269,270
- Os Transgressores (v. 23): (VARA- prevaricadores). Nas versões gregas inserem “pecados”, uma tradução que se pode obter do hebraico por uma mudança na pontuação massorética.
- Atingirem a Plenitude (v. 23): (VARA - prevaricadores – acabarem). Talvez haja aqui uma referência a várias nações, ou, possivelmente, especialmente aos judeus, que encheram a taça da sua iniqüidade.
- Catadura Feroz (v. 23): Provavelmente uma alusão a Deuteronómio 28:49-55.
- Sentenças Escuras (v. 23): (VARA - intrigas). Hebraico CHIDOTH, “relatório enigmáticos”, como em Números 12:8, “enigmas”, como em Juízes 14:12; Ezequiel 17:2, ou “perguntas perplexas”, como em I Reis 10:1. Alguns crêem que o significado aqui seja “discurso ambíguo” ou “de duas caras”.
- Levantar-se-á (v. 23): Isto é: assumirá o poder.
- Não Por Sua Própria Força (v. 24): Compare-se com: “O exército lhe foi entregue” (v.12). Alguns vêm aqui uma referência ao fato de que o papado reduziu o poder civil à subserviência e fez a espada do estado ser manejada a favor dos seus objetivos religiosos.
- Causará Estupendas Destruições (v. 24): Este poder perseguiu mesmo à morte aqueles que se opuseram as suas pretensões blasfemas, e teria extinguido “o povo santo” não tivesse o Senhor se interposto aos seus objetivos.
- Astúcia (v. 25): Melhor, “fraude”. Os métodos deste poder são a perfeição em subtilezas e fraudes.
- Pela Paz (v. 25): (VARA-que vivem despreocupadamente). Melhor, “enquanto vivem facilmente”, isto é: enquanto muitos pensam que estão vivendo em segurança serão destruídos inopinadamente. O Dr. Mervyn Maxwell em seu livro “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel”, página 192, faz uma alusão a este versículo comparando com “o Massacre de São Bartolomeu”.
- Príncipes dos Príncipes (v. 25): Evidentemente o mesmo ser designado por “príncipe dos exércitos” no v. 11, ninguém mais senão Cristo. Foi um governador romano que sentenciou Cristo à morte. Mãos romanas pregaram-no na cruz, e uma lança romana furou o Seu lado.
- Sem Mãos (v. 25): Isto implica que o próprio Senhor eventualmente destruirá este poder (Dan. 2:34). O sistema eclesiástico representado por este poder continuará até ser destruído sem mãos humanas na segunda Vinda de Cristo.
Um certo número de comentaristas tem realçado o ponto de vista de que o “chifre pequeno” do cap. 8 simboliza a carreira de Antíoco Epífânio. Contudo um exame cuidadoso da profecia torna evidente a imperfeição com que este perseguidor rei Selêucida preenche as especificações realçadas. Os quatro chifres do bode (cap. 8:8) foram reinos (v. 22), e é natural esperar-se ser o chifre pequeno também um reino. Porém Antíoco foi somente um rei do império Selêucida, daí o ter sido apenas uma parte de um chifre. Portanto não poderia ter sido UM OUTRO chifre completo. Além disso, este chifre se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa, ou seja, a Palestina (v. 9). O avanço de Antíoco no Egito terminou em humilhação da parte dos romanos, os seus sucessos na Palestina foram pouco duradouros, e o seu esforço no sentido do oriente foi interrompido pela sua morte. A sua política de fortalecer o Helenismo falhou totalmente e a sua astúcia não lhe trouxe prosperidades salientes (v.12).
Além disso, Antíoco não apareceu no fim (v. 23), mas sim cerca da metade do período dos divididos reinos helenísticos; a sua força dificilmente seria atribuída a algo mais, senão ao seu poder próprio; a sua astúcia e política falharam mais do que progrediram (v. 25); não se levantou contra nenhum “Príncipe dos Príncipes” judeu (v. 25); o seu lançamento da verdade por terra (v. 12), foi temporário e completamente mal sucedido, por ter levado os judeus à defesa de sua fé contra o Helenismo. Mesmo embora tenha falado palavras altivas, oprimindo o povo de Deus, e brevemente profanado o Templo, o ainda que alguns outros pontos possam ser provados como parcialmente verdadeiros de suas atividades, não obstante a disparidade de Antíoco como um cumprimento de muitas especificações da profecia é óbvia.

Sem comentários: