2 de fevereiro de 2011

CARTA À IGREJA DE LAODICEIA

Sir Isaac Newton e um considerável número de outros comentadores da Bíblia consideram que Daniel e Apocalipse sugerem que as sete igrejas do Apocalipse prefiguram sete eras futuras da história da igreja. Essa forma de interpretar as castas, ou seja, como portadoras de um conteúdo profético, é um benefício adicional ao histórico ou seja há um benefício espiritual que provém das mensagens dirigidas às sete igrejas que as receberam, e igualmente às igrejas cristãs, através dos tempos.
Assim, as igrejas representariam sete fases da experiência da igreja, no período compreendido entre a ascensão de Cristo até à Sua segunda vinda.
1. Qual é mensagem de Cristo para a última igreja?
Rª: “E, ao anjo da igreja que está em Laodiceia, escreve: Isto diz o Ámen, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente!” Apocalipse 3:14,15.
Nota explicativa: “Laodiceia”, este nome define-se por “juízo do povo”, ou “um povo julgado”. O último termo parece o que está mais perto do significado da palavra original. A distancia que há entre esta cidade e Filadélfia é de 65 quilómetros. Laodiceia foi fundada por um rei seleucida de nome Antíoco II Teos (261-246 a.C.), terá recebido este nome em honra de Laodice, esposa do rei. Nos dias de João era um centro comercial próspero que se especializava na produção de tecidos de lã. Ficava perto da cidade de Colossos e Hierápolis e muito cedo na era cristã se formaram comunidades cristãs nestas cidades (cf. Col. 4:13).
A mensagem fundamental é: “nem és frio nem quente”, sugere que deve ter tido um significado muito especial para os cristãos daquela época e particularmente desta cidade. Um dos principais pontos de interesse desta região era uma série de cascatas de água salobra vindas das termas de Hierápolis. Estas cascatas formam pequenos lagos ou bacias de águas naturais mornas, muito apreciadas pelos turistas. Os relatos históricos e as ruínas de Hierápolis não deixam margem a dúvidas de que a água termal fluía no primeiro século da era cristã. A água morna era, pois, algo familiar aos laodicenses; descrevia adequadamente a sua condição espiritual.
A condição de mornidão espiritual da igreja de Laodiceia era mais perigosa que se estivesse fria. O cristianismo tíbio contém a forma e o conteúdo do Evangelho em quantidade suficiente para adormecer as faculdades perceptivas do espírito. Isto leva a que os crentes esqueçam o esforço diligente necessário para levantar bem alto o ideal de vida vitoriosa de Cristo. É o típico cristão laodicense, satisfeito com a rotina das coisas e orgulhoso do progresso que ainda assim se consegue. É praticamente impossível convencê-lo da sua grande necessidade e como está longe da meta que lhe é proposta: a perfeição.
2. Que ameaça está subjacente como consequência desta mornidão?
Rª: “Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” Apocalipse 3:16.
Nota explicativa: “vomitar-te-ei”, a figura da água morna prossegue até à lógica conclusão. Convém recordar que a água de Hierápolis, além de ser morna, tem mau gosto por causa do seu conteúdo mineral. Esta água desagrada, produz náuseas; o que a bebe quase involuntariamente vomita (cf. 3JT, p.15).
3. Que pensa o cristão (igreja) morno/a e a que é aconselhado/a?
Rª: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro, provado no fogo, para que te enriqueças, e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez, e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.” Apocalipse 3:17,18.
Nota explicativa: “rico sou”, esta afirmação, representa o que os crentes desta igreja penavam e pensam. É uma frase que deve ser tomada no sentido literal e espiritual. Laodiceia era uma cidade próspera, e sem dúvida alguns cristãos que viviam ali tinham recursos. No ano 60 d. C., quando toda a região sofreu um devastador terramoto, Laodiceia negou-se a aceitar ajuda de Roma para a sua reconstrução. Os habitantes sentiram-se suficientemente capazes de fazer frente aos gastos de reedificar os edifícios caídos.
Esta igreja não tinha sido alvo de nenhuma grave perseguição. O orgulho resultante da prosperidade levava à complacência espiritual. A riqueza não é má em si mesma; o que sucede é que as riquezas tornam os seus possuidores se sintam tentados a ceder ao orgulho e à complacência própria. Contra esses males a única protecção segura é a humildade espiritual.
Quando o conhecimento das importantes verdades ficam ao nível intelectual, e não é permitido que elas permeiem a alma, leva ao orgulho espiritual e à intolerância religiosa. Até a Igreja de Deus, poderosa na estrutura da sua organização e rica com as jóias da verdade, facilmente pode instalar-se na intolerância da doutrina e imoralmente orgulhosa. “O pecado mais difícil de curar é o orgulho e a presunção.” (3JT 184-184).
“Enriquecida”. A igreja de Laodiceia não só afirma que é rica, mas também comete o erro fatal de considerar que estas riquezas são o resultado dos seus próprios esforços (cf. Ose. 12:8). “não sabes”, o que não sabe, e não quer saber, quase não tem esperança. A ignorância da sua verdadeira condição caracterizada pelos cristãos de Laodiceia, contrasta com o conhecimento que Cristo tem da verdadeira condição da Sua igreja, como o reflecte a Sua categórica afirmação: “Eu conheço as tuas obras” (cap. 2:2,9,13,19; 3:1,8,15).
Solução: o v. 18 apresenta Jesus: “aconselho-te que de Mim compres ouro, provado no fogo.” A “igreja” de Laodiceia não pode sem esforço alcançar o que Jesus lhe exige. As coisas que Ele lhe oferece têm um preço mesmo se a salvação é sempre gratuita. Deve abandonar a sua velha forma de viver para ser verdadeiramente rica, tornar-se revitalizada pelo poder do Espírito Santo e ser vestida; ainda que não tenha dinheiro, possa comprar (cf. Is. 55:1).
“Ouro”, representa as riquezas espirituais que são oferecidas como o remédio de Cristo para a pobreza espiritual dos laodicenses. Este “ouro” simbólico representa a “fé que opera amor” (Gál. 5.6; Tiago 2:5). Este “ouro” é “refinado no fogo”, ou seja, o ouro que saiu do fogo depois que foi consumida toda a escória. Sem dúvida se refere à fé que foi provada e purificada pelo fogo da aflição (Tiago 1:2-5).
“vestidos brancos”, oferece um grande contraste com a nudez dos crentes de Laodiceia. As vestes brancas são a justiça de Cristo (Gál. 3:27). Esta figura deve ter tido um significado especial para aquele tempo e deve-o ter hoje, para a Igreja Remanescente. O texto termina com uma referência ao “colírio”, o colírio simboliza o antídoto que se oferece para a cegueira espiritual. O propósito é abrir-lhes os olhos para a sua verdadeira condição. Esta é a obra do Espírito Santo (João 16:8-11); só por meio da Sua obra convincente no coração pode eliminar-se a cegueira espiritual. Também podemos considerar que este colírio representa a graça espiritual que capacita o cristão para discernir entra a verdade e o erro, entre o bem e o mal (ver 1JT 479).
4. Qual é o surpreendente convite do Senhor à sua Igreja e cada homem e mulher?
Rª:” Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Apocalipse 3: 19,20.
Nota explicativa: “Eu repreendo”, o propósito de toda a verdadeira disciplina é corrigir e levar a compreender a culpa ao que erra e animá-lo a um novo proceder. “estou à porta”, não se trata da porta da oportunidade que se oferece no v. 8, nem a porta da salvação (cf. Mateus 25:10; Lucas 13:25). Essas portas são abertas e fechadas unicamente Deus. Mas esta porta está sob o controlo individual e cada um pode abrir o fechar segundo a sua vontade. Cristo aguarda a decisão de cada pessoa porque é a porta da alma. Cristo chama à porta das emoções por meio do Seu amor, a Sua palavra e as Suas providencias; chama à porta porta da mente por meio da Sua sabedoria; chama à porta da consciência por meio da Sua autoridade; chama à porta das nossas esperanças por meio das Suas infalíveis promessas.
Também pode considerar-se que esta passagem se refere a Cristo que está à porta da vida humana, e na verdade da história humana, pronto para entrar e abençoar com a Sua presença o Seu povo que espera (cf. Mat. 24:33; Luc. 12:36; Tiago 5:9).
5. Como termina o convite?
Rª: “Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo, no meu trono, assim como eu venci, e me assentei com meu Pai, no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 3:21,22.
Conclusão: Esta igreja é a sétima igreja do Apocalipse e em termos históricos situa-se entre o ano 1844-Fim (volta de Jesus). É de facto a igreja dos últimos dias, lamentavelmente, frouxa e morna e de alguma forma está em consonância com as palavras de Cristo: “Quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na Terra?” (Lucas18:8). O mesmo facto é revelado na parábola das dez virgens sonolentas, cinco das quais procederam de forma tola, não providenciaram suficiente óleo para as suas lampas. Como grupo, as dez virgens eram um meio-termo, tal qual a igreja de Laodicéia. Em estilo semelhante, o apóstolo Paulo fala de cristãos “dos últimos dias”, que se apresentariam “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. 2ª Tim. 3:1-5.
Quão solene é constatar que, a despeito de estar tão próxima a segunda vinda de Cristo, estamos hoje a viver em Laodiceia.
Oro ao Espírito Santo que toque o meu e o seu coração e tenhamos a capacidade de ouvir Jesus diante da nossa porta. É hora de abrir! Não há desculpa depois de tanta insistência da Sua parte. Há um céu a ganhar e uma vida sem rumo a abandonar. Amem.

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